segunda-feira, 28 de junho de 2010

não tão estranho.

Tinha sido acordada pelo ruido das portas da carruagem a serem fechadas com alguma força. Estava escuro e as pessoas à minha volta dormiam. Fui a única que se deu conta de mais alguém naquela carruagem. O rapaz olhava para mim com uma expressão culpada, como que a pedir desculpa. "Uhm, acordei-te, não foi?" Murmurou, caminhando cautelosamente na minha direcção. Acenei levemente com a cabeça com um pequeno e forçado sorriso nos lábios e apertei o cobertor cor-de-rosa contra o meu corpo como que a tentar aquecer-me. "Posso sentar-me aí?" Interrogou, apontando para o lugar vazio à minha frente. Voltei a acenar com a cabeça positivamente.

Era bonito e conhecia-o de algum lado... era-me muito familiar. Tinha cabelos negros a cair-lhe sobre os ombros e olhos brilhantes dos quais não conseguia distinguir a cor, mas fugiam para o cinza. Os lábios eram finos e tinha um ar amigável. Tentei fechar os olhos e voltar a adormecer mas sentia os daquele estranho colados a mim. De qualquer das formas, estava desconfortável e era mais que certo que já não ia conseguir adormecer outra vez. Afastei o cobertor e deixei-o apenas sobre as minhas pernas.

"Como te chamas?" Interroguei. Fui deliciada com um sorriso e os dentes dele cintilivam com a luz que provinha da lua. "Sou um amigo, não precisas de saber o meu nome. Para onde vais?" Não me sentia muito à vontade mas respondi-lhe, ignorando o facto de não ter dito o seu nome. "Não sei. Vou para onde este comboio me levar."

Ele voltou a sorrir-me e ajeitou o cabelo, como que num tique adquirido há muito tempo. "Eu vou para onde o destino me quiser levar." Fui obrigada a levantar uma sobrancelha com aquela observação. Ri-me suavemente. "Acreditas mesmo no destino?" Ele levou algum tempo a responder, como se tivesse receio da minha reacção mas respirou fundo e inclinou a cabeça para o lado da janela, deixando a lua atingir-lhe os olhos. Naquele momento tive a certeza que eram cinzentos. E lindos. "Sim. Infelizmente, não tive sorte mas aqui estou eu, a proteger-te." Sem tempo para responder-lhe ou sequer pensar bem no que ele tinha dito, ouviu-se o som de um despertador.

Acordei a transpirar. Olhei à minha volta e estava no meu quarto. Roupas espalhadas pelo chão e o coberto cor-de-rosa a tapar-me. Desviei o olhar até à mesa de cabeceira onde estava uma moldura e reconheci o rapaz do meu sonho: o meu anjo da guarda.


ps: a inspiração derivou de um amigo meu, o Gustavo. Quero agradecer-lhe por me deixar ser a fã #1 dele e também agradecer-vos por continuarem a seguir o meu blog e a deliciarem-me com comentários tão simpáticos (': Muitos beijinhos*



6 comentários:

  1. O que há de melhor nos teus textos particularmente neste, é que de certa maneira, vivemos o que estás a narrar, ou seja, escreves de forma tão clara que dá para imaginar que estamos na situação em tempo real. A sério, amei :)

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  2. sim, era para ti x) eu gosto sempre de salvaguardar estas coisas, quando acontecem. btw, adorei o texto e concordo com a cátia :3

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  3. awww, levaste-me para essa tua dimensão. ficou excelente! o texto ficou mesmo bonito. :)

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  4. Pois é. Algumas das melhores equipas nem chegaram ás oitavas de final mas nós chegamos e há que dar valor a isso :)

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  5. isto foi, digamos, a inspiração do momento. apeteceu-me fazer algo mais... sei lá... diferente. :D

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