Era uma das típicas noites no restaurante da praia. Vestidos a rigor mas no final, foram todos dar uma volta. Não estava com paciência ou disposição para ir com eles, tanto que fiquei no restaurante até chegarem.
Não fazia ideia do que fazer enquanto esperava. Podia ir até à beira mar mas esta sempre me assustou quando a lua está no céu. Felizmente estava prevenida com um livro na mala. Nunca saio de casa sem um livro.
Cruzei as pernas na minha cadeira e começei a ler. Havia pouca luz mas não me importei; também havia muito barulho mas consegui fazer uma bolha à minha volta e abstrair-me de tudo. Li uma página. Apenas uma.
Alguém tinha rebentado aquela bolha invisivel que eu tinha construido. Ele. O empregado bonito para o qual passo o tempo todo a olhar. Chamem-lhe paixoneta, mas que fico com o coração aos saltos quando o vejo, é verdade.
"Foi por isso que a menina não quis ir dar uma volta com os seus amigos. Ou como vocês dizem... ahm... ir ver os 'gajos giros' que andam por aí. Preferiu ficar a ler, aqui." Disse ele, encostando-se à cadeira ao meu lado. Só levantei um pouco o olhar. Sentia o meu rosto a ganhar um calor muito próprio e as minhas mãos tremiam. "Talvez. Gosto de ler." Resposta parva, não é? Mas foi o que eu disse, acompanhada de um sorriso que escondi com a ponta dos dedos. Um dos meus tiques nervosos.
"Eu nunca gostei de ler. Só na escola é que o fazia e porque era obrigado." Ri-me, a tentar esconder o embaraço. Gostava da voz dele e do sorriso de me era dirigido. Tinha uns olhos tão comuns - castanhos - mas tão bonitos ao mesmo tempo... "A sério? Eu tenho que estar sempre rodeada de livros. São o meu mundo mágico." Respondi.
Ele voltou a sorrir. "É bom ouvir isso, meni-" tive que o interromper. Não gostava que um rapaz de 20 e poupos anos me tratasse por 'menina'. Fazia-me sentir uma criança frágil e pequenina. "Por favor, trate-me por Rita... ou por 'tu'." Ele riu-se docemente, acenou afirmativamente e afastou-se. Voltei a depositar a minha atenção no livro... ou quase toda a minha atenção. Confesso que cada vez que ele passava por mim, levantava o olhar do meu mundo mágico para me concentrar naquela figura saída de um conto de fadas.
Que sorte a minha em acreditar em principes encantados.
ps: veridico.